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NOSSOS RELATOS DE PARTO

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Por Ronny Dandelion

Sábado dia 12 de agosto.

Estávamos Marina e eu no Sitio das Paineiras, no Vale das Videiras, local onde moramos durante todo o ano de 2016 e onde nossa bebê foi concebida. Marina trabalhando em seus textos e já percebendo alterações malucas no seu corpo e sua barriga deformada. Aquela antiga bola de basquete estava ovalada, dura e com duas pontas estranhas. Michael Jordan diria que seria impossível jogar uma partida completa. Eu, trabalhando na terra depois de meses sem pegar no facão me sentia vivo a cada dia.

Passamos dias relaxados com banho de rio, musicas, mantras, conversas e planejamentos de vida acarinhando nossa barriga de 35 semanas.

Por uma vontade genuína a Marina pediu pra voltar pro Rio de Janeiro na quarta de manhã e assim o fizemos. Descobrimos com 31 semanas, através de uma ultra, que nossa bebê tinha uma má formação, possivelmente um hemangioma em toda a extensão do braço esquerdo e um pouco do abdômen, por isso estar perto do hospital especializado (Instituto Fernandes Figueira), ao qual havíamos sido encaminhados trazia uma maior segurança nessa hora de sensações estranhas no ventre.

Quarta dia 16 de agosto

Em "casa", agradecendo o tempo no campo e se preparando para mais agitação urbana com nossa barriga dura, recomeçaram os planos e as investigações sobre o que podia estar acontecendo. Marina mandava mensagens para amigas doulas, nosso médico lindo de plantão 24h e ainda contava o tempo entre possíveis contrações duvidosas, mais frequentes, de 5 em 5 minutos. Eu arrumava a mala da gestante de emergência.

22:50h da noite uma ida ao banheiro, um xixi saudável e uma cachoeira lambendo as pernas da Marina nos surpreendeu: "Amor, a bolsa estourou!", disse ela com tranquilidade em tom de "se prepare!". Uma mistura de nervosismo e felicidade tomou conta do meu corpo. Ligamos imediatamente para o Eberhart (nosso médico lindo) que veio a nosso encontro com sua companheira Dani em 20 minutos. Marina se preparava para a experiência mais intensa de sua vida enquanto contava as contrações e tentava sem muito sucesso conter sua cachoeira com toalhinhas de papel. Eu cortava frutas, arrumava malas, limpava o chão e ria nervoso de tudo. Eberhart fez o toque e estávamos com 3cm antes de sair de casa.

O PARTO

Tudo pronto no carro, chegamos os quatro no IFF por volta de 23:40 com as malas e a barriga. A bolsa já não estava liberando tanta água. A Dani virou a guardiã das comidas na recepção enquanto eu, Marina e Eberhart subimos para o andar das gestantes. Dra. Isadora nos recebeu com tanta doçura que parecíamos estar entre amigos vivendo aquele processo. Prontuario cadastrado, fomos para um leito na enfermaria de gestantes, pois, má notícia: já haviam 2 guerreiras em trabalho de parto ocupando as salas de parto, contudo a boa notícia era que a médica de plantão Dra. Ana Elisa Baião era a mesma que fez nossa ultrassonografia e já conhecia nosso caso, além de ter nos transmitido uma enorme confiança por estar em suas mãos. Mais uma boa e surpreendente noticia chegou com Eberhart que havia ido se encontrar com Dra. Ana Elisa: "e o parto vai ser normal".

Já estávamos conformados com uma cesariana, ainda mais por termos entrado em trabalho de parto pré-maturo. Em mim mais forte ainda o sentimento de felicidade e nervosismo. Agora com um certo medo.

E as contrações começaram a ficar cada vez mais fortes. No pequeno leito ficamos conversando e estudando possíveis cenários da bebê. Eberhart tentando saciar todas as nossas duvidas. 02:30 a Dra. Isa chegou para acompanhar o coração da bebê e fazer mais um toque. 4cm dessa vez e contrações de 4 em 4 minutos. As dores que na recepção estavam incomodando um pouco nessa hora já estavam bem fortes. Foi quando eu e Eberhart nos tornamos os doulos possíveis naquele momento. Os recursos disponíveis eram carinhos, massagens, palavras de força, e os mantras vigorosos e relaxantes que eu puxava da memória na hora.

Por volta das 3:40h da manhã, toda a enfermaria provavelmente já havia sido acordada pelos gritos da Marina. As contrações estavam bem fortes, de 3 em 3 minutos e ela começava a pensar em desistir e sentir medo do que estava por vir. Chegou a pedir remédio, vejam só! Ela que nunca foi disso.

As dores começaram a aumentar extraordinariamente. Seus gritos já não vinham da garganta, mas de um lugar de profundo desespero e aparente desamparo.

Nossa pequena Marina voltou a ser uma criança e a cada nova contração uma frase aterrorizada. Um nítido resgate dos traumas de sua infância se manifestavam através de pedidos muito pouco racionais com uma voz infantil e temerosa: "faz isso parar, pelo amor de Deus" "é sério, eu quero desistir", "chega, eu não aguento mais!"

Nesse momento senti medo, muito medo. Uma impotência como ser, sem saber o que fazer, o que esperar ou como acolher todo aquele aparente sofrimento.

Minhas mãos repousavam de leve seu corpo super sensível em movimentos de alivio na região lombar e reiki. Marina questionava porque eu e Eberhart não falávamos nada. Sabiamos que qualquer coisa que falássemos não seria bem vindo. Era claro que aquele momento era dela, tão somente dela.

Eberhart disse que era chegada a hora do banho quente para alivio das dores das contrações. Tiro e queda. Água quente alívio imediato. Passamos 30 minutos no banheiro pois a dores eram bem menores debaixo d'água. Cantávamos mantras e nos deixávamos a disposição de ser o que quer que a Marina quisesse que fossemos. Nossa pequena Marina que sem se dar conta, estava prestes a se tornar gigante.

Voltamos para o leito e as dores começaram a voltar com força quando a Isa (nesse momento não havia mais sentido usar pronomes de tratamento formais) chegou para mais um toque. 4:50h, 8cm pra 9cm de dilatação e uma surpresa aliviante para Marina que achava ainda estar com 5cm ou 6cm. Nos encaminhamos para a sala de parto. Marina se posicionou na bola, na cama, com toda a liberdade entre uma contração e outra. Voltamos para o banho quente quando as dores voltaram a ficar desesperadoras. Nesse momento a água quente já não aliviava tanto assim suas dores. Os gritos desesperados voltavam a cada 3 minutos, e junto com eles alguns raros palavrões bem imponentes. Quando a vontade de fazer coco e força chegou voltamos para a sala, para a bola e para a cama. Foi esse o momento em que aparentemente as dores estavam mais fortes do que nunca. Mas aquela menina já não era a mesma Marina frágil e aterrorizada da enfermaria. Parecia estar ficando resistente a dor ou pelo menos a encarando de outra forma, mais resiliente, aceitando aquele caminho sem volta e a urgência de sua presença naquele momento.

Deitou na cama, totalmente nua, se largou na posição que mais lhe confortava. Fiquei em pé ao seu lado. Eberhart sentado na cadeira acompanhando em silencio a fase expulsiva da bebê. As Dras. Isa e Gabriela entravam a cada 20 minutos para mais uma olhadinha e acompanhamento do coração com sonar. Parte dos gritos da Marina começavam a ser calados pela força que ela fazia. E parece ter sido uma benção descobrir que fazer força durante as contrações diminuíam suas dores. 6:00h e a cabecinha da neném começava a aparecer. "que ótimo!", pensei "o sofrimento esta acabando". Nossos 3 médicos a postos na sala esperando o momento de intervir e observando os batimentos da neném a cada 10 minutos.

Eu já não tinha mais o medo e a Marina me passava uma enorme confiança. Estava ali, inteiro, sendo sua parede, seu pilar, seu travesseiro, tudo. A cada contração ela aprendia como seu corpo preferia respirar, gritar, fazer força e expulsar a neném. Me lembro da sua penúltima frase mais desesperada ter sido: "TIRA ESSA CRIANÇA DE MIM!!!"

6:30h meu braço direito sobre suas costas e ombros, minha mão esquerda segurava, a seu pedido, uma de suas pernas suspensas no ar, eu já não conseguia olhar a bebê saindo. Precisava estar naquela posição firme, preparado para a próxima contração. Comecei a sentir toda a força da Marina em meu corpo. Aquela menina que não conseguia abrir os potes de geleia em casa estava deixando meu braço dormente cada vez que me pedia para puxar sua perna na direção contrária ao seu empurrão. Minha mão esquerda se tornou uma parede rídida e sólida na sola de seu pé. Por mais de 10 contrações eu ia me cansando e me tornando forte como a Marina. Não cabia desistir ali, nem o pensamento cabia. No intervalo das contrações agora minuto a minuto o pensamento de soltar aquela perna de 30kg surgia e eu o mandava embora me dizendo que não era hora de ser egoísta. Estava disposto a perder o braço se preciso. Olhava Marina nos olhos e não mais a reconhecia. Havia virado uma leoa. Fazia uma força extraordinária e no minuto seguinte relaxava de olhos fechados num estado sonolento. Nova contração se aproximando e ela se preparava cada vez mais inteira para fazer a força que fosse necessária para dar vida àquela criança. Olhava seu rosto suado, tirava seus cabelos do rosto e a estimulava com palavras de força. Não haviam mais gritos, apenas expressões de muita confiança de que aquilo iria acontecer a qualquer custo. Acho que nunca admirei tanto alguém em toda a minha vida. Seguimos nessa intensidade até as 7:00h quando a cabecinha começou a sair por completo. E foi quando ouvi sua ultima frase mais desesperada de todas "CARALHO! TA ARDENDO MUITO!". Seu circulo de fogo durou 3 eternos minutos até que toda a cabeça fosse expulsa. Quase lhe faltava ar e ela conseguia respirar quantidade suficiente para enfiar a cara no meu peito e fazer força novamente. 7:05h o corpinho da nossa pequena finalmente saiu por completo. A placenta, vermelho fogo, viva, forte, saiu em seguida sem qualquer esforço. Eu chorava copiosamente parabenizando a Marina e dizendo o quanto ela foi fantástica. Ela, com um olhar vago, sem saber o que sentir ou pensar, ou fazer. Nossa Marina musa mulher maravilhosa havia dado a luz a 3 novos seres. Marina, Ronny e Anahí.

VIDA-MORTE-VIDA

Na hora do nascimento haviam quase 10 médicos na sala, dentre eles a Dra. Ana Elisa Baião que graças ao sucesso do parto não precisou intervir, 3 pediatras, Eberhart e as 2 medicas que acompanharam todo o parto, alguns enfermeiros e outras pessoas que pareciam estar muito curiosas.

Marina só teve a oportunidade de dizer aos pediatras "Eu confio em vocês." e dar um beijo na pequena Anahí que logo foi levada para a UTI neonatal. Marina terminou de ser limpa e costurada com grau 2 de laceração vaginal.

Voltamos para a enfermaria as 7:40h. Eberhart se despediu de nós com breves notícias sobre os procedimentos que Anahí iria passar. Marina dormia enquanto eu ansiava por notícias da nossa filha. As 9:00h pude vê-la na incubadora. Disseram que ela teria que ficar em observação. Haviam colhido exames que só teriam seus resultados no fim da tarde. Passei algum tempo admirando minha mais nova pequena tão linda, tão frágil e com o bracinho que mais parecia uma batata doce de tão roxo e gordo. Achei tudo lindo. Nem dei bola para os tantos fios e tubos que entravam pelo seu corpinho. Estava feliz. O sentimento do que é ser pai se manifestava pouco a pouco.

Voltei para encontrar a Marina feliz da vida por ter visto nossa filha. Desejava que a Marina fosse visitá-la em breve e sentir um pouco daquilo que senti. Minha linda Marina se orgulhava emocionada ao dizer "eu dei um beijinho nela".

Minha mãe foi a primeira a chegar as 14:00h e pode visitar a netinha pois chegou exatamente no horário aberto para os avós. Abriu as janelinhas da incubadora e pegou em todo o corpinho da pequena Anahí. Começamos a avisar a alguns amigos que nossa bebê tinha nascido e do horário de visita. Mais familiares chegaram com mensagens de fé e esperança de que o problema dela não havia de ser nada demais e em breve ela estaria boa. Acreditávamos nisso também, mas estávamos bem apreensivos, desejando boas noticias no fim da tarde. Os pais da Marina chegaram e Eberhart também voltou para saber mais sobre o diagnostico da Anahí. Eu passei o crachá de acompanhante para mãe da Marina para que elas duas pudessem visitar a UTI juntas, fui pra casa banhar e descansar prometendo voltar à noite para dormir no hospital.

Ao voltar soube das noticias. O quadro da nossa pequena filhota não era simples. Já haviam aplicado alguns medicamentos como corticoide, sedativos para dor e ela respirava com ajuda de máquinas.

Eu e Marina começamos a pensar no pior. Ainda sem nos deixar fraquejar. Informando amigos e familiares momento a momento, a cada nova informação. Passamos uma noite com muito pouco sono e fomos visitá-la juntos pela manhã. Tocamos todo seu corpinho, cantamos, fizemos reiki, desejamos sua melhora e nos emocionamos um pouco. Minha maior frustração de todas era ver a Marina sem poder pegar a filha no colo. Vê-la segurando a mãozinha da filha por uma janelinha me cortava o coração, mas resistia com a ideia de estarmos com ela em breve em nossos braços.

Sexta-feira dia 18. Passamos um dia difícil dando a noticia de que a situação da nossa filha era rara e delicada para as pessoas. Ao mesmo tempo recebendo mensagens de carinho, força e apoio. Rodas de orações, de reiki e até umas macumbas boas se espalhavam junto com a noticia do nascimento. Nossas famílias estavam integradas juntas pedindo em oração. Haviam 5 equipes medicas cuidando do caso entre outros especialistas de fora do hospital que davam suas opiniões. Como uma boa leonina Anahí queria atenção de todos. Logo mais tivemos mais noticias, nada empolgáveis. A situação era realmente grave. Haviam descoberto uma síndrome (kasabach merritt) raríssima com poucos casos no mundo e era apenas um entre tantos outros problemas que o corpinho de Anahí apresentava. A dosagem de medicamentos foi aumentada e já se falava em transferência para um hospital mais especializado. Nesse dia eu fiz uma visita a Anahí sem a Marina, que precisava descansar, e ela abriu os olhinhos enquanto eu cantava a linda musica enviada por uma amiga querida, uma outra Marina, do outro lado do mundo. Senti um estado de graça. Uma felicidade em paz nesse momento.

Disse a Marina que havia liberado nossa filha para seguir seu destino. Que confiava nela para escolher o que fosse melhor. Que seu corpinho frágil não precisava resistir a tantas intervenções, drogas e picadas.

Sábado dia 19, conhecemos o lado cinza da medicina. A situação permanecia a mesma, e já se falava em quimioterapia. Foi quando começamos a nos preparar para o descanso da nossa filha. Marina ainda como uma guerreira conseguiu preparar emocionalmente nossas mães em uma bela conversa no horário de visitas para essa possibilidade que já não era nada remota.

Após o horário de visitas, tiramos um tarot, cantamos, meditamos na intenção de trazer paz aos nossos corações tão angustiados. Eberhart havia me perguntado em uma consulta médica, logo quando descobrimos a suspeita de hemangioma, qual seria o pior cenário pra mim e eu havia descrito perfeitamente esse momento. Minha filha toda entubada, tentando resistir à morte e eu sem ingerência sobre nenhuma etapa do processo, sem poder pegá-la nos braços ou decidir por ela.

Eu e Marina chorávamos muito no momento em que fomos convidados, pela médica de plantão, a ver Anahí pois o interferon não havia dado resultados, ela teve que ser reanimada e seu corpinho estava muito debilitado. Chegamos a UTI e ao vê-la, marcada, inchada, bem roxinha e completamente sedada Marina me disse "Ela não está mais aqui, amor." e choramos ali, em pé, sem saber se podíamos tocá-la enquanto médicos e enfermeiros continuavam seu trabalho com outros bebês. Eu e Marina nos recompomos e eu chamei a médica de plantão que parecia bastante constrangida com a possibilidade de uma conversa.

Perguntei até que ponto tínhamos controle sobre a situação de Anahí, se tínhamos escolha para deixá-la descansar ou continuar intervindo e então descobrimos que o coração de nossa filha era sustentado pela cruel legislação que diz ser necessário tentar tudo até o fim. A médica ficou sem palavras e tudo que conseguiu foi permitir que Marina a pegasse no colo.

Nos despedimos da nossa filha. Pedimos que ela descansasse em paz, que seguisse na luz e que nos sentíamos muito gratos pela oportunidade de ter vivido esses pouco dias que pareceram meses, anos, vidas, de aprendizado e amor incondicional.

As 23h do dia 19 de agosto deste ano nossa pequena Anahí veio oficialmente a óbito. Já haviamos chorado o suficiente e se apoiado mutuamente. Agora estávamos nos preparando para dar a notícia aos avós e cuidar com o restante de força que ainda tínhamos das pessoas próximas que não esperavam por um desfecho tão transmutador. Mensagens encaminhadas e um pedido para que nos deixassem descansar sozinhos e assentar todos os acontecimentos.

As 09:00h da manhã Marina teve alta. Era o plantão da Dra. Isa e ficamos muito felizes por ser ela a nos liberar. Suas palavras doces nos animaram a sair do hospital confiantes para viver nossa nova vida sustentado pelos recentes aprendizados sobre amor, respeito, liberdade, cuidado com o outro e deixar morrer para que o novo possa renascer.

Fizemos uma carta de agradecimento a todos os médicos e enfermeiros que se mostraram tão humanos ao tentar cuidar de Anahí e da Marina e não somente da doença em questão.

A cada experiência única e intensa que vivo acredito que não pode haver outra tão forte ou semelhante e aí a vida vem e me presenteia com mais uma. Essa foi de longe a experiência mais intensa que vivi e acredito de verdade que meu momento era perfeito para vivê-la. Estou no começo de uma nova vida, começando tudo do zero, me preparando para colocar a mochila de aprendizados nas costas, me livrar das amarras do passado e desenhar os próximos passos rumo ao infinito colorido e imprevisível. Se eu pudesse pedir por sentimentos, peço que não sintam pena. Eu e Marina estamos bem, fortes e confiantes que nossa vida será incrivelmente bela. Ela já o é. Precisamos apenas de um tempo para nós, pois por trás da nossa casca dura capaz de aguentar fortes emoções existe um coração gigante e igualmente frágil que teima em sentir saudade de um futuro que nunca existiu. Obrigado a todos por todas as palavras de carinho e de força. Duvido que estaríamos aqui escrevendo esse texto não fosse pelas amizades que cultivamos. Vocês, amigos e família, são nosso bem mais precioso e por isso esse texto visa terem vocês aqui mais pertinho.

Na alegria ou na dor nossa força é o amor. Somos mais do que mil, somos um.

Por Marina Dandelion

Foi tudo um sonho

Nossa gestação, há meses desejada e ritualizada em rodas de mulheres, pedidos para a terra, limpezas de útero, finalmente chegou na lua nova de reveillon. Casa aberta, amigos queridos, cachoeiras lindas, comida boa, conversas madrugada adentro, brincadeiras de criança, banhos de sal e argila, família pelada e muita dancinha amorosa. Nesses dias de sonho, desceu a luz da nossa filhota direto pro meu ventre. E aí começou.

A gravidez me mostrou todos os medos e inseguranças que eu achava que não teria, tão certa que sempre estive que ser uma família grande era meu grande sonho. Era grande mesmo, grande demais para a ficha cair toda de uma vez. A cada semana, cada nova sensação, cada aumento de barriguinha, eu me surpreendia mais duvidosa e também mais feliz e bonita. Nunca estive tão bonita quanto nesse longo ano de 2017. Também nunca fui tão fértil e produtiva. Me entreguei para me tornar a nova mulher que para sempre teria que ser e trabalhei a partir do coração. O que o coração mandava, eu fazia. E assim produzi muitos filhos, lancei muitos projetos, comecei empreitadas novas. Fui muito feliz.

 

Mas não foi um ano fácil. Foi um ano intenso de buscas. Queríamos um novo lar, uma nova vida em comunidade para começar nossa nova família. Queríamos viver com mais crianças. Queríamos ao nosso lado nossos amigos mais irmãos. Queríamos um lugar lindo, uma casa no campo pra plantar os amigos, livros, discos e tanta coisa mais de gostosa pra comer. Queríamos viver o sonho. E começamos a buscá-lo. Cada mês que se passava e nosso lar não mostrava o caminho até ele, mais perto chegávamos do prazo de validade da filhota. Víamos várias sincronias, carros emprestados surgiam na hora certa, casinhas idílicas apareciam quando um pouso era necessário, amigos novos aconteciam e finalmente uma oportunidade quase perfeita se apresentou. Tinha casa, bebês, lago, terra, amigos lindos, mel e sol. Era o sonho! Começamos nossa lenta mudança. Várias viagens de carro para levar toda a nossa vida até lá, entremeadas por cursos intensivos de meditação, trabalhos inegáveis no Rio, encontros e festas em família... e o prazo da filhota chegando perigosamente mais perto.

Mas fomos despertados da cama antes do amanhecer. Um ultrassom de capricho (só pra tentar ver seu rostinho, que vivia escondido na minha placenta) nos acordou para as palavras mais temerosas: nossa bebê tem uma mal formação. Pesadelo. Exames para fazer, consultas e mais consultas e o desenho do que ela tinha começou a se mostrar, mas só saberíamos mesmo a extensão da sua saúde ao nascer. Desligaram as luzes mas dessa vez não era hora de dormir e sonhar. Tínhamos que ficar de olhos bem abertos, continuar caminhando, mas totalmente no escuro. Não sabíamos como seria o parto, de que cuidados ela precisaria ao nascer, quando estaria curada, como seria o resto da sua vida, quais tratamentos, quantas hospitalizações, aonde precisaríamos viver, como sonharíamos nossa vida. Essa é a lição, então? Lembrar que estamos sempre no escuro e não sabemos o dia de amanhã é fácil, mas realmente viver dentro da caverna pegajosa do Deus mistério é uma missão única. Passamos por essa fase de descoberta em segredo, sem poder responder para as pessoas mais próximas e queridas a verdade sobre onde estaríamos na próxima semana, onde faríamos o parto, onde viveríamos com ela. Não sabíamos! Mas, não faz mal, mentir tanto. O que importa é o amor. E fomos amados, amados demais. Fomos mergulhados numa roda de bênçãos de pura emoção, beijados, acarinhados, ninados por gente que nos ama de todos os lados. Foi uma noite mágica para os que lá estiveram. Saímos fortes e invencíveis desse ritual. Prontos para a escuridão que viesse! Somos amor, somos puro amor. O sonho ainda vive, em qualquer lugar que estivermos, pois ele é só amor.

Faltam ainda algumas semanas, podemos agora descansar, bordar, ficar na natureza, rezar, meditar, curtir a barriga que não pára de crescer. Em breve estaremos num hospital iluminado por fora e escuro por dentro, aonde tudo pode acontecer. Sonho ou pesadelo, estamos prontos.

 

O parto foi sonho.

3 semanas antes do tempo, nossa forte filhota quis vir ao mundo. Com contrações de "treinamento" doloridinhas e se ritmando de 5 em 5 minutos, fizemos uma mala de precaução e enquanto batíamos papo na cama, curtindo aquele não-saber, a bolsa de repente estoura (no chão, graças a deus), um xixi eterno e limpinho que parecia não acabar nunca. Realmente, não acabou nunca. Nas horas finais do parto, minha água ainda estava saindo nas mãos das médicas! Gravidinhas, se preparem pra usar fralda.

Desde a bolsa rota às 23h de quarta até o nascimento da nossa filhota às 7h05 de quinta 17/08/17, muitas vidas aconteceram. Foi aí que o tempo começou a se alargar. Ri, celebrei, tirei foto fanfarrona, bati papo com meu médico melhor amigo que acompanhou o parto inteiro com a gente, beijei muito meu amor e até dançamos coladinhos entre uma contração e outra. Meu colo se abria num ritmo de poucos centímetros a cada exame de toque e logo me vi começando a me desesperar. Pedi pra sair. MUITAS vezes. Quis desistir, quis remédio pra dor, quis analgesia, anestesia, até cesariana eu pedi. Meus dois doulos (Ronny e Ebhs, o médico) me negavam todos os pedidos com um silêncio de força. Estávamos ainda na enfermaria onde gestantes e puérperas "dormiam". Mas ninguém dormiu naquela noite, pois minha criança ferida foi libertada e pentelhou a vida de todos. Reclamei, choraminguei, bati panela, magoei mesmo. Até que o centro obstétrico foi finalmente liberado e um novo toque aliviou todas as minhas preocupações de ficar naquela tortura por mais muitas e muitas horas. Eu já estava com 8 pra 9 cm! Amadureci no mesmo instante. Caminhei pelo corredor até a sala de parto como se não sentisse nada e tentei aproveitar dos apetrechos de uma instituição pública federal humanizada. Pulei na bola, sentei no banquinho no banho quente, escalei a cama e testei várias posições. No final, independia. Só tinha que ser alguma postura em que eu pudesse afundar minha cara em algum lugar. Fosse no colchão, na parede ou no peito do Ronny, lá estava eu escondendo meu rostinho na placenta também. Outra surpresa: eu tremia inteira. Do início ao fim. Do instante que eu saí de casa até horas depois do parto, a adrenalina me tremeu as pernas e o corpo todo num transe infindo.

Enfim, logo as contrações começaram a vir forte com vontade de empurrar, de fazer cocô, de me abrir toda. Força, grito, respira fundo, não grita que é melhor, é verdade foi melhor dessa vez, sem gritar então, prende a respiração, agarra o pescoço do ronny, enfia a cara no seu peito, pede pra ele segurar forte sua perna, faz força pelo ânus, sente abrir, faz mais um pouco, sente a dor da contração passar, descansa, ausculta o coração da nenê, tudo normal, relaxa, dormita, sonha coisas loucas, começa a sentir a dor recomeçando e faz tudo de novo. Muitas e muitas vezes. Será que tenho forças pra ficar nessa por muito tempo mais? Sem ouvir minha pergunta mental, meu amor da vida me dizia sem parar que sim, que eu era fantástica, maravilhosa, a mulher mais forte que ele já tinha visto. Ele no auge da sua energia feminina, me dando carinhos sem parar. E eu no auge da masculina, virando bicho, leoa, guerreira, instinto puro. Uma hora de expulsivo e finalmente alcançamos o círculo de fogo. Como eu ansiava por ele! Sabia que ele chegando, tudo acabava logo. Mal sabia eu que minha grande prematurinha iria ficar com a cabecinha paradinha no meu círculo de fogo por 3 contrações e seus eternos descansos intermediários, me ardendo por um tempo infinito, uma vida inteira de fogo. Muitos dedinhos se preparavam pra segurá-la. Eu não percebia, mas éramos mais de 8 pessoas na sala. E finalmente, sereia, escapuliu. Olhei minha filhota morena e gordinha, que, já sabíamos, teria um bracinho mais fortinho que o outro. Bracinho de incrível Hulk que foi nos seus próximos dias de vida. Dentro de mim, eu sabia que ela não viria para meu colo, mas para as mãos habilidosas dos pediatras que a esperavam pacientemente do meu lado. Eu confio em vocês, consegui dizer. Eu estava entregue, leve, livre. Se ela não sobrevivesse naquele momento, eu sentia que estava tudo certo no mundo. Acontecesse o que tivesse que acontecer, eu aceitaria nossa missão.

Placenta linda saiu, Ronny guardou-a para congelar e fazermos medicina, tomei pontos e mais pontos e antes de levarem nossa filha pro UTI, já entubada com dificuldade de respirar sozinha, me permitiram um cheiro e um beijinho na têmpora.

Foi o mais perto que cheguei da minha neném.

 

Os acontecimentos cotidianos dos próximos dias quase não importam. Tive pressão alta de nervosismo, fiz xixi num pote enorme durante um dia inteiro, comi comida de hospital, comi comida contrabandeada, tomei um monte de remédios que nunca quis tomar na vida, senti cólica, comecei a gostar de usar fralda e lembrei como é sentir sangue escorrendo pra fora de mim de novo, dormi pouco e mal e visitei minha frágil filha na UTI.

Mas também chorei muito de gratidão e de medo com Ronny, mandei mensagens de novidades boas e ruins pra muitos amigos e as horas passavam recebendo textos e áudios e fotos e ligações, um mais lindo que o outro. Recados do amor mais puro amor e da luz mais pura luz sendo enviada na nossa direção. Na nossa primeira noite como papai e mamãe, já sabíamos que Anahí estava muito fraca e nos preparávamos para o dia seguinte amanhecer no escuro novamente. Vivemos aquela primeira noite, no mesmo leito da enfermaria aonde estávamos gritando de dor 24h antes, nos sentindo entregues, fortes e silenciosos.

 

A cada nova visita à UTI, íamos entendendo que nossa leonina já gostava de palco e estava deixando os médicos em várias sinucas de bico. Sua mal formação vascular era complexa e rara, o que os deixava de mãos quase atadas. Transfundir plaquetas, para melhorar sua coagulação, significaria piorar o hemangioma no braço, que empurrava o pulmãozinho esquerdo. Não podiam fazer um catéter central pelo umbigo, porque não sabiam ainda a extensão do problema no abdômen, então tinham que picá-la nos pézinhos e mãozinhas, o que trazia de volta as complicações por baixas plaquetas. Seu coração batia forte, sua boquinha pedia pra sugar o tubo de respiração, seus olhinhos abriram quando Ronny cantou sua música. Mas a cada nova visita, mais músicas cantávamos, mais mantras entoávamos e mais lágrimas chorávamos, pois seu corpinho pedia descanso. Escolhemos um nome cuja lenda indígena contém bravura, doçura, belas canções e fogo que se transforma em flor. Não podia encaixar melhor com nossa doce menina de Omolu.

No período da tarde, recebíamos amorosas visitas e notícias do quanto de gente espalhada pelo Brasil (amigos, familiares e completos desconhecidos) estavam imersos em orações, rezas e reikis para nossa guerreira. Como no ritual da roda de bênçãos, estávamos de novo mergulhados num mar de amor por todos os lados. Sentíamos que o planeta parecia estar ficando um pouco mais leve e iluminado, com tanta energia de luz sendo integrada por tanta gente em tão pouco tempo. Sentíamos também que Anahí tinha luz própria e era enorme. Que sua energia pura tinha essa como missão: a união de tantas pessoas na energia do amor. Intuímos que ela não sofria, como um bebê inocente e perdido, por estar tão distante do toque caloroso dos seus pais, mas que era sábia e antiga. Sabíamos também que todas essas pessoas estavam ninando ela em seus colos astrais e que talvez isso a curasse.

Era tudo TANTO nesses 3 dias. Tanta emoção, tanto cuidado, tanto apoio, tantos abraços e tantas lágrimas. Tanto tempo. Alargado como nos sonhos, em que poucos minutos numa realidade, no paralelismo onírico vive-se uma aventura completa. Criamos uma caverninha de puerpério na enfermaria, e entre visitas à nossa filhota na sua caixinha de vidro e suas máquinas barulhentas, conversas preocupantes com seus médicos, cuidados e abraços com as vovós e vovôs que estavam imersos em esperança-luto junto com a gente, conseguíamos um tempinho pra nós. Rezamos muito, cantamos mais ainda, nos desesperamos e nos acalmamos. Buscávamos ficar no momento presente, agradecidos, confiantes, entregues. Mas quando vinham as lembranças do sonho que não mais seria, do futuro que não parecia ser mais possível, nos permitíamos urrar a dor que era necessária. Saíamos mais fortes dessas catarses, mais família, mais apaixonados, amando ainda mais todos os presentes que nossa filhota nos trazia. Eu escrevo isso de bochechas surpreendentemente secas, como se tivesse ocorrido há tanto tempo, embora tenha sido há dois dias. Mas cada dia de puerpério é uma vida e nós vivemos 3 vidas inteiras essa semana. Vivemos ou sonhamos?

 

No sábado à tarde, os médicos já tinham feito tentativas desesperadas de curar nossa menina. Quimioterapia, reanimação de coração, transfusão de hemácias e plaquetas, doses altíssimas de remédios para pressão. Enquanto isso tudo acontecia, não nos deixavam vê-la durante tantos procedimentos arriscados, meu útero chamava por ela lá da enfermaria e nós nos preparávamos para a despedida. Eu implorava em silêncio por uma única coisa: eu precisava carregá-la nos meus braços. Fomos chamados enquanto ela ainda estava viva, segundo as máquinas que monitoravam seus batimentos, respiração etc. Mas nesse nosso último ritual, nossa linda filha, com seu bracinho esquerdo mais fortinho que o outro, seus dedinhos longos de unha grande, seu rostinho de quem puxou o pai, seus pezinhos perfeitos, ela já tinha ido. Passamos uma hora liberando sua alma através das mais belas canções que conhecemos em nossos corações e graças a tudo que é mais sagrado nos permitiram pegá-la nos braços, ainda que com todos os seus tubos. Esse tempinho que passamos juntas, filha, será o ponto alto da minha vida por muito tempo ainda. Seu peso nos meus braços está impresso como tatuagem e agora posso voltar a esse momento sempre que eu precisar. Eu já sabia que tudo isso podia ou iria acontecer, sabe? Lá da caverna da escuridão, algumas semanas atrás, eu tinha me preparado para todos os piores possíveis cenários, e na época fiz um desenho da nossa família. Seu pai me segurando por trás, nos acalentando em seu peito largo, e você no meu colo. Assim foi nosso último momento material. Eu estava só sorrisos. Fechamos os olhos e nos vimos em cima de um morro, todo gramado, embaixo de uma grande árvore com um riacho ao lado, aproveitando a sombra de um dia lindo e quente. Era sonho inatingível? Era o fim de um pesadelo? Nada. Era a mais pura vida real, aquela árvore, aquele céu, aquele calor, aquele pesinho imóvel e frio contra o peito.

As máquinas finalmente deram nossa amada Anahí como anjinha às 23h de sábado 19/08/2017. Exatamente 3 dias depois que seu corpinho estourou minha bolsa. As águas que escorreram de mim naquela longa noite eram límpidas como lágrimas. As águas salgadas continuaram vazando dos meus olhos por 3 dias-vidas e agora estou dolorosamente chorando lágrimas de leite doce.

 

Aguardo, não ansiosamente mas confiantemente, o tempo em que toda essa experiência será uma lembrança pura e maravilhosa. O tempo em que todas as lições já terão se encaixado. O tempo em que teremos toda a força do mundo pra começar de novo e viver isso tudo novamente, se preciso for. Por enquanto, quero só contar essa história-sonho, pra vocês que não puderam vivê-la mais de pertinho conosco nessa semana que passou. Para vocês, que também querem nos enviar todo o seu amor, seu carinho, seu mais sincero lamento, mas não a sua pena. Meu coração aperta ao pensar em algumas pessoas que não puderam atravessar essa jornada junto conosco nos últimos dias, porque não tínhamos estrutura suficiente pra chamar tanta gente. Ser cuidado por amigos genuinamente preocupados conosco também requer um certo retorno de cuidado da nossa parte. Seu pesar gatilha o nosso desespero e lamentar em coletivo requer muita energia, ainda mais num puerpério de braços vazios como o nosso. Essas duras palavras derradeiras são pra explicar por que estamos precisando ficar a sós por um tempo. É que Anahí completou bravamente sua missão de nos ensinar a viver no breu e agora já sabemos caminhar de olhos fechados pela caverna da vida. Esse tempo recolhidos vai nos fortalecer ainda mais, para sairmos do subterrâneo prontos para recebê-los em um ritual final de despedida da nossa menina doce mulher guerreira. Aguardem nossos sinais de fumaça e, se sonharem com ela, anotem para nos contar como foi! Ela gosta de aparecer em sonhos por aí. Aliás, eu mesma não estou tão segura assim que não foi mesmo tudo um longo sonho.

A LENDA DE ANAHÍ

O nome Anahí foi escolhido no dia em que eu e Marina a visitamos na UTI no primeiro dia e transmitimos a nossa filha todo o amor de nossos corações.

O nome Anahí é tupi-guarani. Segundo a lenda, esse era o nome de uma índia que amava sua terra natal e gostava de correr livre pelos bosques, conversava com as árvores e os animais. Era conhecida por sua voz doce. Quando cantava até o Rio parecia parar para escutá-la. Lutou bravamente por sua tribo e seu território em uma guerra sangrenta contra colonizadores espanhóis. Foi tida como bruxa pelo tamanho da sua força e encanto. Ao ser feita prisioneira foi amarrada a uma fogueira. Diziam que cantava uma bela canção enquanto queimava e irradiava luzes em direção ao céu. No dia seguinte não haviam cinzas no lugar onde foi queimada, mas sim uma bela árvore de ceibo, vigorosa e florida.

 

Na época destes relatos, apenas dias depois do parto, fizemos um vídeo em homenagem a tudo o que vivemos e postamos no facebook. É forte e cru.

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